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Wednesday, November 23, 2005

 

O PAÇO MUNICIPAL

Aurora Fernandes Brito Munhoz

Em nossas caminhadas, nos deparamos com lugares, pessoas e eventos que nos marcam e ficam guardados para sempre em nossas memórias. Por volta de 1980, ao passar no centro de São Bernardo fiquei impressionada com o imenso Paço Municipal, o enorme prédio de dezenove andares, os chafarizes e outras peculiaridades arquitetônicas. Uma colega comentou comigo que ali era uma área privilegiada, pois se tratava do Paço Municipal, coração de São Bernardo. Disse que nos finais de semana era sempre bem movimentado, por ser conhecido por alguns como roteiro das artes. E que costumava passar as tardes ali, pois gostava de ver os rapazes fazerem manobras radicais na pista de skate, de muros coloridos marcados pelos pichadores e bem festejada pela garotada; como também de ver os shows com cantores populares, passear pelo Chopão e ver as novidades. E por fim era costume passar no McDonald’s que era o único da cidade.
Na época do Natal eu e minhas colegas combinamos de ir à noite, pois o local ficava muito bonito com um lindo presépio; tanta beleza me causou fascínio. Elas comentavam algumas coisas, mas eu nem prestava atenção, ficava observando cada detalhe. Entre tantos eventos acontecidos, alguns tiveram destaque, como foi o caso de um comercial que foi gravado com crianças das escolas de educação infantil. As crianças corriam com bandeirinhas do Brasil nas mãos e depois formavam com os corpos a palavra “democracia.” Este foi bastante comentado pela população são-bernardense.
Nos finais de semana comecei a ir com freqüência à tarde; gostava de ver em um dos espelhos d’água os peixes (carpas e as tilápias), bem como as crianças brincando com seus familiares. Fui também com a turma da escola ao Teatro Cacilda Becker.
Em 2004 retornei em uma tarde ao Paço com minha família para assistirmos a apresentação do coral da Escola Municipal de Educação Básica Aldino Pinotti. Além da apresentação do coral também estava programada a participação do cantor Toquinho. Infelizmente o evento não aconteceu, pois caiu uma forte chuva. Por ser um local castigado pelas enchentes, os organizadores optaram pelo cancelamento da festa. Esta área tornou-se alvo de reportagens sempre que chovia além do previsto.
No inicio deste ano o jornal Diário do Grande ABC divulgou uma notícia, cujo conteúdo notificava sobre o projeto de construção de um novo Paço Municipal. As mudanças tornaram-se sinais visíveis nessa área tão privilegiada de nosso município: o prédio e algumas de suas peculiaridades arquitetônicas já não são mais visíveis, outras estão desativadas. É o caso do espelho d’água. No entanto permanece a memória, fundamental porque nos traz a idéia de vida e nos fortalece para que caminhemos na expectativa de outros momentos marcantes.

Thursday, November 17, 2005

 

Na farmácia Santa Luzia, meu primeiro emprego

Farmácia

Crônica - Memória

Hildebrando Pafundi


O sonho de meu pai, Antonio Pafundi, era ter um filho médico. Se dependesse da simples vontade dele, eu, que era o mais velho dos cinco filhos (quatro homens e uma mulher), seria o médico. Imagino, até, que ele queria na família um clinico geral e não um especialista.

Morávamos na Vila Assunção, em Santo André, SP, desde 1942, quando chagamos do Belenzinho, um bairro da Capital, onde nasci. Eu deveria estar com três ou quatro anos de idade. Meu irmão Domingos tinha apenas um ano. Meus outros três irmãos nasceram na Vila Assunção.

A principio residíamos na atual praça Almeida Júnior, que na época era mais conhecida como Segundo Largo, em uma vila de casas térreas, na realidade, um cortiço de propriedade de Vergílio Gamba, que foi também dono da primeira empresa de ônibus que fazia a linha Vila Assunção-Estação. Ali também ficava a garagem dos ônibus que eram conhecidos como jardineiras. O local hoje é ocupado pelo Jardim Escola Mamãe Margarida e alguns estabelecimentos comerciais.

O Primeiro Largo da época, no sentido centro-bairro, ou Largo do Cruzeiro era a atual praça Assunção. As duas praças são interligadas até hoje pela avenida Dr. Antônio Álvaro. Moramos naquele cortiço do então Segundo Largo, uns seis ou sete anos. Meus irmãos foram nascendo, um a cada dois anos, em média: Alexandre, Maria de Fátima, Manoel. Aquela pequena casa que fazia parte do cortiço já não comportava tanta gente.

Meu pai resolveu comprar um terreno na rua Visconde de Mauá, 556. Na realidade eram dois lotes, que juntos mediam vinte metros de frente por quarenta metros de fundos. Em um dos lotes, ele construiu nos fundos um quarto e cozinha, com banheiro fora, como era usual na época. Não havia água encanada. Toda a água que necessitávamos vinha de um poço construído perto da casa. Em local o mais distante possível, foi aberta a fossa negra, pois não havia coleta de esgoto doméstico.

Mais tarde começamos a construir uma grande casa na frente, que meu pai não chegou a ver concluída. No outro lote, plantávamos verduras, legumes e árvores frutíferas. Lembro que havia nesse terreno pés de goiaba, araçá, figo, pêssego, maracujá, limão, mexerica e laranja. Porém, o que mais gostávamos era de um tal tomate inglês, que a gente cortava ao meio e comia com sal. Havia também uma deliciosa amora silvestre vermelha, que não precisava ser plantada, nascia naturalmente.

Vida boa aquela, brincando em ruas de terra batida, rodando peão, jogando bolinha de gude, descendo ladeiras na mais alta velocidade em carrinho de rolimã. Só com oito anos (em 1947) é que comecei a freqüentar a escola, que ficava no final da rua Visconde de Mauá e acabei concluído o primário na Escola Estadual Professora Hermínia Lopes Lobo, que existe até hoje, na avenida Dr. Erasmo.

Não sei em que momento ele escolheu para mim a profissão de médico. Mas quando eu estava com doze ou treze anos de idade, ainda usava calças curtas, meu pai conversou com o farmacêutico Orlando Ferrari, que era proprietário da Farmácia Santa Luzia, localizada na praça Almeida Júnior. Acho que ele pensou que iniciando como ajudante em farmácia, eu logo me interessaria pela medicina. Assim, passei a alimentar e fazer parte aquele sonho, que a principio era só dele.

Alguns dias depois eu já estava trabalhando nessa farmácia, que existe até hoje, na mesma praça Almeida Júnior, embora tenha mudado de esquina. O farmacêutico Orlando foi me ensinando os segredos da profissão: esterilizar seringas e agulhas, que na época não eram descartáveis; lavar vidros, copos graduados, graus e outros equipamentos utilizados nas fórmulas de remédios, que eram produzidos num pequeno laboratório localizado na parte dos fundos.

O atual proprietário é Alberto Plenamente, com quem continuei trabalhando mais algum tempo, junto com outro jovem de sua confiança, o Euclides Marchi, que nessa época deveria estar também com 16 anos. Bem mais tarde o encontrei, não lembro o ano, mas sei que era candidato a vereador, porém não foi eleito. O Alberto adquiriu a Farmácia Santa Luzia em novembro de 1953. O antigo proprietário mudou para a região de Campinas e nunca mais tive noticias a seu respeito.

Nessa época eu já aprendera a aplicar injeção, primeiro no músculo e depois na veia, que era mais difícil. As primeiras cobaias, depois de treinar em frutas como laranja e maçã, foram meus parentes: tios, tias, avó, primos e primas, que sofreram com as primeiras picadas. Só não lembro de ter aplicado injeção no meu avo italiano, Candido Pafundi, que fumava cigarro de palha e bebia muito vinho. E nunca ficava doente. Morreu com mais de oitenta anos com quase todos dentes naturais. Fui aprendendo a ler receitas, com aquelas quase ilegíveis letras de médicos. Já manipulava algumas fórmulas mais simples e de bicicleta, ainda entregava remédios a domicilio ou aplicava injeções em pacientes que não podiam se locomover.

Depois que já estava com bastante prática comecei a procurar emprego em outras farmácias para ganhar mais. Continuei estudando, passei pelo antigo ginásio, que naquele tempo exigia um exame de admissão. Depois fiquei na dúvida entre os cursos cientifico, contabilidade ou normal. Segui um conselho, que não lembro de quem partiu: optar por contabilidade ou normal, porque já teria uma profissão, mesmo que não chegasse a exercer. Optei pelo curso normal, mas nunca lecionei, fiz apenas o estágio obrigatório.

Trabalhei em diversas outras farmácias depois da Santa Luzia e cheguei a ser proprietário de um estabelecimento farmacêutico por alguns meses. Acabei vendendo para não abrir falência. Depois dessa aventura mal sucedida, que meu pai não chegou a presenciar, pois já havia falecido, desisti de ser farmacêutico e nem pensava mais em prestar vestibular para medicina. Mudei completamente de profissão: fui trabalhar na parte administrativa de industrias metalúrgicas. Trocava com freqüência de emprego, porque não havia o atual problema de desemprego. Em geral eu pedia a conta, porque estava sempre aparecendo outro serviço que pagava um salário maior. Mas nos últimos dois: Elevadores Otis e General Eletric comecei a escrever crônicas, noticias sociais dos clubes dos empregados e publicá-las nos jornais internos dessas empresas.

Fui pegando gosto por essa nova atividade paralela e logo estava colaborando com outros jornais e revistas fora da empresa onde trabalhava. Depois de três ou quatro anos, já me consideravam jornalista, embora não tivesse cursado faculdade de comunicação. Mas naquele tempo não havia a necessidade de diploma de jornalista para exercer a profissão. Fiquei conhecido no meio e logo surgiu um convite para trabalhar no Diário do Grande ABC. Passei a exercer a profissão de jornalista de fato, com registro em carteira e no Mistério do Trabalho. Esse início da nova carreira ocorreu há cerca de trinta e cinco anos anos. Até já me aposentei como jornalista, embora continue trabalhando no mesmo ramo. Nem eu e nem meus irmãos optamos pela medicina. E o sonho de meu pai de ter um filho médico, ficou só sonho.


 

UM DIA NA CADEIA

Cadeia

Conto

Hildebrando Pafundi


Eu não era culpado de nada, mas estava preso. Tudo aconteceu quando... em um dia qualquer, por volta de quinze horas encontrava-me em um bar, bebendo cerveja. Era só cerveja. Juro! Era só cerveja!

Do nome do bar, sequer lembro. No entanto, recordo-me que nessa época eu trabalhava até quatorze horas e, antes de ir para casa, gostava de parar em algum bar para tomar cerveja. Naquele bar, porém, era a primeira vez.

De repente, sem saber de onde viera, a policia entrou e levou todos que se encontravam ali, independente do que estivessem fazendo: tomando alguma bebida, jogando sinuca ou apenas jogando conversa fora. Os únicos que se salvaram foram, o dono do boteco e o balconista.

Agora estava naquela cela mal cheirosa, junto com outros três homens que sequer conhecia, nem estavam no bar. O delegado de plantão, não sei porque motivo, colocou cada um dos que haviam sido presos no bar, em celas diferentes. Não sei o motivo, como também não sabia porquês estava preso.

Um dos meus colegas de cela, que parecia ser o líder do grupo, aproximou-se e me pediu um cigarro. A principio, minha idéia era oferecer-lhe apenas um, porém, pensando em conquistar confiança e comprar sua amizade, dei o maço inteiro e, incluí também o isqueiro. Argumentei, como desculpa para minha atitude que, aproveitaria essa oportunidade para deixar de fumar e, embora ainda não estivesse convicto, mas talvez parasse, também, de beber. Só tomo cerveja, como já disse anteriormente.

--Meu nome é Gilberto, disse ele, sem que eu houvesse perguntado.

Contou-me que aguardava julgamento por assalto a mão armada. Disse-me também haver simpatizado comigo. Aproveitou e apresentou os outros dois, contando-me que faziam parte da mesma quadrilha.

Já se passaram dez anos, mas lembro-me até hoje... Um deles me estendeu-me a mão e disse:

-- Prazer, José de Oliveira.

O outro estava arredio, não arredara o pé do canto em que se encostara, no entanto, sussurrou e acrescentou detalhes ao seu nome:

-- Paulo da Silva, mais conhecido como Paulão da Esquina.

É claro que os demais, também tinham apelidos. O José era o Zezinho da Vila e, o Gilberto, o Giba do Samba.

Criara-se um clima de amizade, porém, não revelei detalhes de minha vida. Não sabia por quanto tempo ficaria preso. Nunca fora preso antes, não sabia o que poderiam querer fazer comigo, naquela noite ou no dia seguinte mas, já ouvira falar que o novato, sempre acaba virando mulherzinha da turma.

O dia transcorreu sem maiores problemas e, com pouca conversa. A noite, no entanto, foi de cão. Tive pesadelos e sonhei que meus companheiros de cela haviam me condenado a morte. Acordei desesperado, transpirando e com taquicardia. Fiz uma promessa desesperada a mim mesmo: não beberia nunca mais, nem cerveja. Num gesto simultâneo um novo carcereiro abriu a cela e declarou que eu estava livre.

--O delegado pediu para soltá-lo e recomendou-lhe que pare de beber.

Antes que eu virasse as costas, para ir embora, sem me despedir dos antigos companheiros de cela, ainda acrescentou:

--Na próxima vez você ficará preso por uma semana ou mais.




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