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Thursday, January 05, 2006

 

O CEMITÉRIO DE CAMILÓPOLIS




Jorge Joaquim Magyar

Quando eu era menino, morávamos na Vila Lucinda, em Santo André. E no bairro vizinho, Camilópolis, em duas casas velhas, num só terreno, moravam duas tias, por parte de mãe.A visita a essas tias ocorria normalmente durante a semana, isso a cada dois meses mais ou menos, sem a presença de meu pai.Saíamos cedo, minha mãe cheia de sacolas com nossas roupas e alguma coisinha para as tias. Íamos a pé, cortando caminho pelos vários terrenos baldios e ruas menos movimentadas. Em uns 40 minutos lá estávamos, sem aviso prévio, para ficarmos o dia todo. Era sempre um passeio desejado.Não muito distante das tias, no mesmo bairro, há um cemitério, onde estão enterrados meus avós. A visita a esse local estava obrigatoriamente incluída no programa do dia.Mal a tarde começava e já nos dirigíamos ao cemitério. Do portão principal avistávamos seu tão familiar interior: o caminho principal, que vai da entrada até a capela e desta até o final, ladeado por árvores altíssimas, sempre dançando ao sabor do vento. Este, o vento, é presença constante naquele lugar.Antigamente os cemitérios eram construídos em montes e colinas, onde houvesse muito vento, pois acreditava-se que este dispersaria os miasmas que porventura existissem.Mas, parece que em todo cemitério, mesmo nos mais novos, sempre venta bastante. Será, mesmo, uma característica que lhe é inerente? Ou porque são lugares muito abertos, sem grandes obstáculos à passagem do vento? Ou será, ainda, que são espíritos correndo e brincando por entre as sepulturas do “campo-santo”?Bem, não sei! O que sei é que lá venta muito; um vento que se faz sentir também por seu murmúrio fantasmagórico por entre as árvores e túmulos, com seu ímpeto refrescante ou, por vezes, extremamente gélido.Esse som nos amedrontava sobremaneira, a ponto de não deixarmos minha mãe e minha tia nem por um minuto.Consistia o passeio em visitar os túmulos dos avós e depois mais uns 15 a 20 outros, de parentes e conhecidos delas; desconhecidos para nós. Muitos túmulos repletos de crisântemos brancos e amarelos, outros com alguns poucos, a homenagear aqueles que partiram: aqueles que morreram na flor da idade ou aqueles que muitas flores colheram a não mais caber nos braços...Invariavelmente elas começavam a falar de alguém, então para o respectivo túmulo nos dirigíamos. Aí, um nome puxa outro: túmulo da dona tal, de fulano de tal, do padrinho, daquela espanhola velha que morava em tal rua..., e assim íamos passando de túmulo em túmulo.A cada túmulo, uma história, nem sempre do morto; muitas vezes da família que ficou, da viúva que voltou a se casar, daquela que agora está muito doente ou daqueles que nunca mais foram vistos.Havia o túmulo da menina que morreu queimada, sobre o qual sempre tinha muitas flores e a recomendação para não se acender velas. Acreditava-se que ela fazia milagres. Ficávamos ali parados, olhando a foto daquela criança e impressionados com sua história, bem como dos seus possíveis milagres, contados com riqueza de detalhes por minha tia.O primeiro túmulo a ser construído no cemitério era também sempre visitado, acompanhado do comentário:“É, este foi o primeiro a ser enterrado e ganhou o túmulo. Tão simplesinho esse túmulo, merecia algo melhor!”No final do passeio, também íamos ao ossário, onde a luz dos últimos pedaços de velas, praticamente se extinguindo, anunciava o final do dia.O ossário é uma enorme caixa de cimento, com apenas uma portinhola de ferro, tendo uma cruz vazada no meio, que fica após a capela, do lado direito, junto ao muro lateral.Ali, a curiosidade momentaneamente vencia o medo e tentávamos olhar através da cruz para o interior daquela caixa escura, buscando ver ossos e, quem sabe, um esqueleto humano.Já na saída do cemitério, quase junto ao portão, há uma jaqueira, que vez ou outra encontrávamos com fruta. Uma única jaca, sinal da vida que continua a produzir frutos, mesmo em lugares destinados a acolher corpos sem vida...Quando voltávamos para nossa casa, já com o sol se pondo e a penumbra se aproximando, passávamos ao lado do cemitério. Àquela hora, quase noite, quando os fantasmas da imaginação começam a despertar para suas aventuras noturnas, sentíamos um arrepio de medo e queríamos passar o mais rápido possível.Nessa época havia o boato da existência de uma “pessoa” que à noite, nas imediações do cemitério, pedia carona e depois sumia.Minha mãe, vendo nosso medo, tentava amenizar relatando um fato da época em que morava em sua cidade natal, no interior de São Paulo. Dizia ela:“Há muitos anos, meu padrinho, ao ficar viúvo, quase enlouqueceu, tamanho era seu amor pela esposa falecida. Então, por um bom tempo, todas as noites, à meia-noite, ele ia à cavalo ao cemitério e, defronte ao portão, ficava chamando por ela. E – completava minha mãe – nunca apareceu nada!”.“Devemos ter medo é dos vivos”, emendava ela.Mas, isso não era suficiente para apagar de nossa fantasiosa imaginação as histórias de mortos e almas que voltavam do além.Até mesmo o muro cor de terra, altíssimo, que acompanha a geografia interna do cemitério, naquele momento nos deixava aterrorizados, parecendo estar prestes a desabar sobre nós.Era, na verdade, o sinalizador aparente, porém irreal, dos limites entre dois mundos, guardião de histórias e memórias, tão vivas, evocadas pela presença de tantos mortos!




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