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Friday, February 17, 2006

 

São Bernardo do Campo: Tecendo e Filmando Sonhos

São Bernardo do Campo: Tecendo e Filmando Sonhos Helena Santos de Moura


São Bernardo do Campo é sempre referida como a cidade do móvel e do automóvel.

Entretanto, se nos aprofundarmos nas suas raízes vamos encontrar, tal qual Alice no País das maravilhas, um mundo rico de histórias e encantamentos que não está ligado, somente, à produção do móvel e do automóvel. Está, sim, ligado à magia das atividades das moiras tecedeiras do destino, da mitologia grega, e à tela mágica dos irmãos Lumiére.

E então perguntar-se-á :

- E o que tem a ver São Bernardo do Campo com as moiras tecedeiras, da mitologia grega, e com a tela mágica dos irmãos Lumiére, considerada a oitava maravilha do mundo?

O que se poderá responder é que São Bernardo do Campo, considerada a cidade do móvel e do automóvel, também já apresentou uma contribuição significativa na economia nacional através da produção de tecidos. Assim como teve também o seu nome projetado no cenário brasileiro através da produção de filmes inesquecíveis e de comprovada qualidade artística.

A produção de tecido, do móvel e a produção cinematográfica, na cidade de São Bernardo do Campo, conviveram na época da primeira metade do século XX, período esse que se configurou na fase de ouro da expansão da indústria brasileira e ascensão da burguesia nacional.

Na segunda metade do século XX, porém, alcançou a cidade de São Bernardo do Campo a expansão do capitalismo internacional através das montadoras de automóveis.

E na balança da economia, então, entra em ascensão a importância das montadoras de automóveis, enquanto declina, a indústria de tecidos e, em menor escala, a indústria de móveis. A indústria do cinema, por sua vez, extingue-se, deixando, somente, a memória.



O Tecido e o Sonho


Quem avista um pavilhão no centro de São Bernardo do Campo, próximo ao Paço Municipal e que hoje abriga um importante Centro de Cidadania denominado Sedesc, não pode imaginar o que essa importante construção já representou para a História econômica de São Bernardo do Campo, e não pode vislumbrar que ali já houve a fábrica de tecidos ELNI, que funcionou nas décadas de 1940, 1950, 1960, até 1970. Tanto essa indústria têxtil, a ELNI, como a Pelosini, a Tognato e outras tecelagens, contaram com o trabalho de mãos habilidosas para tecer e cabeças repletas de sonhos a realizar.

E, enquanto teciam tecidos nos teares, teciam sonhos na imaginação.

Sonhos simples: de estudar, de namorar, de casar; de construir uma casa, de formar o seu lar e a sua família.

Eram esses artesãos e sonhadores que, juntamente com outros sonhadores de outros fazeres de artes e ofícios, expandiriamm a cidade de São Bernardo do Campo e projeta-lá na cenário nacional.


A Fábrica de Sonhos


Quem passa pelo prédio da Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo e vai subindo a avenida que é, hoje, denominada Lucas Nogueira Garcez, e que atravessa um bairro nobre de nome Jardim do Mar, há de avistar um imenso pavilhão que, a principio, parece um pouco abandonado - o Vera Cruz. Esse pavilhão já abrigou a maior fábrica de sonhos do Brasil, a partir do final da década de 1940.

Dizem que os “iluminados” que têm o poder de entrar no antigo mundo ou em mundos paralelos, quando passam, a noite, próximo ao pavilhão Vera Cruz, conseguem vislumbrar o ator Milton Ribeiro travestido de Lampião, galopando com seus "cabras" nas filmagens de O Cangaceiro. Ou ainda, ver o ator Anselmo Duarte encenando Zéquinha de Abreu, ao piano, tocando no filme Tico-Tico no Fubá. E mais, Marisa Prado, uma tecelã da fábrica de tecidos "Irmãos Pelosini" que deixou de tecer tecidos para tecer sonhos a convite de um diretor da companhia cinematográfica Vera Cruz: Estrelou o filme O Cangaceiro que ganharia um prêmio num Festival Internacional da Europa.

Se prestarmos atenção na região que circunda o Pavilhão Vera Cruz iremos encontrar marcas que lembram a fase de ouro do cinema nacional.

Por exemplo, quando se passa na rua Franco Zamppari, na Vila Euclides, bairro próximo ao Pavilhão Vera Cruz, logo vem à memória a figura do grande empreendedor artístico nacional Franco Zamppari que idealizou e concretizou essa fábrica de sonhos, aqui em São Bernardo : Companhia Cinematográfica Vera Cruz.



O Sonho Tecido Numa Fábrica


São João Climaco é um bairro da cidade de São Paulo que se localiza próximo à divisa com São Bernardo do Campo.

Lá, nasci e cresci, antes de vir residir em São Bernardo do Campo.

Atravessa o bairro de São João Climaco a Via Anchieta, que vai até o litoral paulista e passa também por São Bernardo do Campo.

Nesse bairro, próximo à Via Anchieta, eu passei minha infância e adolescência, que ocorreram entre os anos pré e pós-dourados do final da década de 1950 até meados da década de 1960.

O cinema e o livro constituíram-se, para mim, no mundo mágico da minha infância e adolescência.

Todos os domingos eu ia às matinês dos cinemas do meu bairro : o Cine São João Climaco e o Seckler.

Lá, eu alimentava o meu espírito com sonhos e conhecimentos trazidos pela tela mágica, inventada pelos Irmãos Lumière, da frança.

Eu não ia ao cinema sozinha, mas sim com um grupinho de amigas.

Lembro que, em um domingo, fomos assistir o filme Sai da Frente, estrelado por Mazzaropi e realizado pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz.

Entre as amiguinhas que estavam me acompanhando ao cinema, havia uma, de nome Elza, que morava numa casa localizada na beira da Via Anchieta. Naquele tempo era comum os banheiros serem construídos atrás da casa, num espaço à parte. E costumava-se designar esse importante recinto numa linguagem mais chula, ou seja, “privadas”. Reporto-me a esse detalhe do banheiro para relatar que, num determinado momento do filme Sai da Frente, em que Mazzaropi passava com o seu caminhãozinho, o antológico “Anastácio”, exatamente na Via Anchieta, onde foram rodadas algumas cenas, avistamos aquele recinto importante para todos nós, nos fundos da casa da minha amiga. E todo o grupo que fora assistir o então famoso filme estrelado por Amácio Mazzaropi gritou em coro:

­­- Olha a privada da Elza...

É claro que todos que estavam no cinema voltaram os olhos para o local de onde partiu aquele coro.

Nunca mais esqueci esse entrevero!

Saí da minha infância e entrei na adolescência...

Naquele tempo, somente as famílias mais abastadas do que a minha tinham condições econômicas para proporcionar a continuidade dos estudos para os filhos, após terminarem o curso primário.

Eu, após terminar o meu curso primário, no grupo escolar estadual do meu bairro, não continuei os estudos e só voltei a estudar muito mais tarde.

Aos treze anos fui trabalhar numa fábrica, ali mesmo no meu bairro, localizada próximo à Via Anchieta, a Via que nos conduzia até a companhia cinematográfica Vera Cruz, a fábrica de sonhos. A fábrica que eu fui trabalhar, porém, era de tecidos.

Ali naquela tecelagem continuei tecendo sonhos e tecidos.

E, então, durante a semana eu engendrava tecidos. E nos fins de semana eu tecia sonhos, através do cinema, do livros e do teatro.

Na minha cabeça sonhadora de adolescente eu tecia o sonho de ser escritora ou atriz de cinema ou teatro.

Perseguindo esses sonhos, eu descobri que existia numa Sociedade Amigos de Bairro de São João Climaco, cuja sigla era SPM, um grupo de teatro que apresentava pequenas peças e esquetes no palco, dessa mesma sociedade. Fui procurá-la e passei a integrar esse grupo de teatro. Alguns dos seus integrantes vieram a participar de fotonovelas que eram muito aceitas, na época. Outras fizeram teatro na Companhia Cinematográfica Vera Cruz e até participavam como figurantes.

Um dia, Tereza, minha única irmã que compartilhava comigo os mesmos sonhos, topou vir até a Companhia Cinematográfica Vera Cruz para solicitarmos a possibilidade de realizar um teste para ser atriz. Ela já era moça feita e muito bonita então, me apoiei nos seus dotes de beleza, achando que esse atributo daria muita sorte a ela e a mim. Um dia criamos coragem. Viemos até São Bernardo do Campo. Quando chegamos próximo à Companhia Cinematográfica Vera Cruz, ela perdeu a coragem na minha frente. Voltamos para casa, frustradas, sem tentar nada....

Mas continuamos a tecer sonhos através do cinema, do teatro e dos livros.

Seguimos caminhos diversos.

Minha irmã casou-se e teve filhos mas nunca perdeu o gosto pelo cinema. Mora em São Bernardo do Campo. Vive sonhando com um memorial da Companhia Cinematográfica Vera Cruz e continua, até hoje, sendo uma apreciadora compulsiva de filmes.

Eu, também na minha mocidade, vim morar em São Bernardo do Campo: a também cidade dos tecidos e dos sonhos. Estou aqui há trinta e cinco anos.

E sempre me emociono quando me aproximo da fabulosa fábrica de sonhos: o pavilhão da Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Como também me sensibilizo quando passo por alguma fábrica de tecidas, muitas vezes desativadas como a ELNI, hoje sede do Sedesc, ou da Irmãos Pelosini, localizada numa travessa da rua Marechal Deodoro, e cujas batidas dos teares emudeceram.

São Bernardo do Campo, a cidade do móvel e do automóvel, é muito mais do que isso. E também a cidade dos que teceram e produziram tecidos e sonhos.







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